Não me julgue pela coragem que te falta
Eu sempre quis
sair de casa. Acho que qualquer adolescente sonha com isso, achando que brincar
de casinha na vida real é exatamente como brincávamos nos nossos quartos e
salas. Comigo não foi diferente. Eu brigava demais dentro de casa. Meu quarto,
minhas regras; se eu limpo, ninguém suja; se eu arrumo, não é para desarrumar;
tudo assim. Isso não era só para a convivência dentro de casa, era pra tudo. Eu
queria do meu jeito. Tudo exatamente como eu planejei dentro da minha cabeça.
Cresci; na
marra, na garra e no desastre também.
Quando eu
decidi me mudar para São Paulo, logo de primeira eu não pensei. Não pensei em
salário, em como seria, onde morar, se teria amigos, se sentiria saudade
suportável, se eu realmente era desapegada assim, etc. Eu só vi como uma
possibilidade de fugir. Fugir de sentimentos velhos, pessoas que não cabiam
mais no meu novo mundo, fugir da casa dos meus pais e finalmente ser livre.
Rs... Ninguém
me contou, mas, eu vou contar.
Fui julgada, indiretamente,
mas fui. “Você é louca!”, “Tainah, lá vai ser muito difícil”, “Você não precisa
disso” e tantas outras expressões. Confesso que algumas vezes eu quis desistir,
pensei mil vezes se eu não estava sendo imatura e como sempre, impulsiva em tomar
essa decisão. Até que a minha mãe, ah... essa mulher, me falou assim: “Tainah,
se eu tivesse essa chance antes, talvez você e seus irmãos não tivessem nem nascido.
Você não tem nada que te prende aqui. Nós vamos te apoiar, nós estaremos sempre
aqui. O máximo que pode acontecer é você
voltar, e aqui sempre será a sua casa”.
Nesse dia eu
desisti de colocar obstáculos para todas as soluções; desisti de dar ouvido às
pessoas que só pensavam no material, no superficial. ‘meti’ as caras e assumi a
responsabilidade.
Não tinha
caído a ficha até o momento que o pessoal da mudança chegou na minha casa e
levou tudo em uma questão de 20 minutos. Eu fiquei assustada, meu coração
acelerou, meu irmão sentou no sofá sem acreditar, minha mãe com cara de paisagem,
mas incrédula ainda e eu no meio daquilo tudo só sorri e falei: “é... agora é
de verdade”.
Quando eu
cheguei aqui em São Paulo, sentei no chão da minha nova casa, rodeada de 14
caixas e uma cama, olhei pro teto, sorri, agradeci, me desesperei e falei: “caraca,
eu preciso comer!”. Onde? O que? Já eram 19h, eu mal sabia onde ficava meu
trabalho, quem dirá um lugar pra comer. Tudo bem, vivemos na era da tecnologia,
mas eu não pensei nisso, ok?! Eu só queria que minha mãe chegasse na porta e
falasse: “vem comer, ta pronto!” (sinto muita falta disso).
Adivinha... O
dia acabou em pizza!
Eu tive a
sorte de conhecer vizinhos incríveis; pessoas que me acolheram desde o primeiro
dia que coloquei meu pé aqui. Ajudaram a levar as caixas, a conhecer o bairro,
a comer (isso até hoje), a superar os dias difíceis (e olha que foram e ainda
são muitos), a celebrar os melhores dias também, enfim, eles são a minha
família aqui.
Não bastando a
vida profissional uma loucura, a vida social rodeada de trabalho, a vida
amorosa um verdadeiro filme de comédia (ainda é, ok?!), eu não estava feliz
comigo mesma. Fiz uma cirurgia arriscada. Me submeti a algo que sempre julguei
ser de pessoas fracas (coitada de mim) e, de novo recebi uma chuva de
julgamentos. “Você não precisa disso”; “você está fazendo por vaidade”; “esse é
o caminho mais fácil”; etc.
Sabe o que aconteceu
né? Fingi demência para todos eles (mas eu os senti, ta?!), encarei a cirurgia,
emagreci 40kg e voltei RADIANTE. Eu
não tenho outra palavra melhor do que essa pra dizer como foi voltar, como foi
olhar a reação das pessoas ao me encontrarem no meu eu mais radiante possível, mais autêntica do que sempre fui, mais risonha
do que o normal, mais decidida do que nunca e mais confiante... Nossa, eu
posso dizer com todas as letras, eu voltei INSUPORTAVELMENTE
CONFIANTE. Insuportavelmente amigável, risonha, alegre, otimista, cheia de
força de vontade, cheia de LUZ!
Eu apanhei viu!?
Eu levei rasteira de pessoas que nunca imaginei levar. Fui rotulada com
adjetivos que nunca me pertenceram e que num determinado momento até achei que
eram meus. Sou alvo de fofoca por gente que insiste em querer me apagar. Fui passada
pra trás por ter esse coração mole e ser inocente (uma inocência que irrita até).
As coisas que falei (com e sem maldade) foram usadas contra mim. Nada aqui foi
fácil. Nada aqui eu tive fácil. Ainda não tenho e não é fácil.
Depois de
muito apanhar, de muito chorar, de muito duvidar de Deus e de mim mesma, eu
aprendi a me virar. Aprendi a ceder, a calar, a falar, a trabalhar, a me
relacionar, a ouvir, a renunciar, a viajar, a rezar e até a chorar. Aprendo
todos os dias; com amigos, estranhos, o cachorro da rua que sempre me acompanha
quando saio ou chego em casa, com a moça da loja que eu compro água, com o coreano
do mercadinho, a moça da padaria, o tio Ricardo da van, com o pessoal do
restaurante lá de cima, do moço da moto que vive fazendo graça e dizendo que
sou a “moça bonita”, a moça da distribuidora onde compramos cervejas que vive
falando do coreano e que ele explora a gente no nosso pais... São tantas
pessoas aqui, são tantos ensinamentos, que quem me conheceu em 2016, teria que
me conhecer novamente hoje.
Aqui eu posso falar
com toda sinceridade do mundo... Eu não faria nada diferente, porque se eu
fizesse, eu jamais seria a mulher que sou hoje. Se eu tivesse pensado racionalmente no ônus e no bônus de vir
morar aqui nas condições que vim e de fazer uma cirurgia tão drástica, eu não
tinha colocado minha “cara” nem na porta da minha casa lá em Brasília. Se eu
tivesse escutado os julgamentos, eu não teria crescido o que eu cresci aqui e
jamais teria entrado em uma calça 38. Sim, pode aceitar sociedade, eu entrei em uma calça 38! Olha quanta coisa massa
aconteceu por que eu simplesmente não quis ouvir os julgamentos equivocados das
pessoas sobre minhas escolhas (e eu nem contei metade).
Naquele processo
de me mudar em 2017 eu li essa frase e nunca mais a esqueci: não me julgue pela coragem
que te falta; e é isso cara! O sonho é seu, o desafio também é seu,
as pessoas vão criticar tudo que você for fazer ou deixar de fazer. Elas vão
apontar se você está magra, assim como vão dizer que você engordou e tantas
outras coisas. FAÇA ASSIM MESMO, no fim é sempre sobre você com você mesmo.
A gente não
tem o amanhã, 2019 chegou atropelando todo mundo como uma tsunami, arrancando
todas as raízes que te deixavam na sua zona de conforto pra te dizer: VOCÊ SÓ TEM O AGORA. FAÇA!
Eu estou
voltando...
Voltando duas
casas para avançar dez.
Só quero que
você que está lendo esse texto, não desista daquilo que seu coração,
insistentemente, pede pra você fazer. Não deixa o medo alheio e até os seus,
atrapalharem aquilo que você pode conquistar (seja bem material, seja crescimento
espiritual). Eu estou com medo, minha cabeça está uma confusão, está tudo um
pouco fora de ordem; mas, de uma coisa eu tenho certeza, depois de ver o mundo (começando por São Paulo), “eu nunca mais me
sentirei completamente em casa novamente. Parte do meu coração sempre estará em
outro lugar”.
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